sábado, 22 de agosto de 2009

METAMORFOSE


Sonho que não é realidade,
Mas que desvenda a máscara da falsidade.
Pesadelo mitológico com certeza,
Retirou o teu prato da mesa.
Se só isso fosse, como seria bom
Mas com o prato foi-se a alegria de viver,
Por outra alegria tivesses de morrer.
O importante era a aparência: o ter e não o ser!
Acordou como nunca fora antes.
Eles também, assim como você, metamorfoseados para nunca se esquecer: “que a vida é uma grande aparência do viver”.
Demonstraram na verdade a alma do interior,
Que nunca houve amor,
Só especulação financeira.
Foi-se o dinheiro e com ele a certeza de amar,
Pai, mãe, filha só de nome pra enfeitar.
Esquecido lá está
Gregor que tanto trabalhou para nada os faltar.
E nem está mais, Morreu de decepção!
Pobre caixeiro-viajante,
Que trauma lhe trouxe esse sonho conflitante.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

E o homem... Quando morre, MORRE?



Detivi-me, há pouco, numa releitura de um texto de Carlos Drummond de Andrade que por sinal, me foi apresentado ainda na antiga casa religiosa. O título já não o sei. Sei somente tratar-se do que aqui me ponho a escrever. Porque isso? Devido a duvida que de súbito invadiu a minha cabeça: estaria realmente o defunto (aquele da terra do nunca) realmente morto? E para responder a esse meu questionamento, bebi de algumas idéias de Brás Cubas. E cheguei à conclusão de que realmente, o morto, dependendo de quando vivo, depois de morto, ainda vive alguns dias. E falo aqui de todos aqueles defuntos famosos. Astros de funerais grandiosos. Mas na contramão desses defuntos de uma eternidade póstuma de alguns dias, semanas e até mesmo anos, estão os excluídos, marginalizados que até mesmo antes de morrerem; morrem pela vontade alheia. Falo do caso do Carlito Prata, agricultor da colônia Igarapé do Onça.
Esse homem sempre se imaginou livre de todos os pecados e doenças. Era cristão de uma fé inquestionável. Isso porque não dava espaço para os outros lhe questionarem. Era ele e sua bíblia. Sim! Sua bíblia. Mas o caso aqui não é religioso ou conseqüência disso.
No entardecer da vida esse homem descobriu que era muito doente. E com a descoberta da doença todos os males vieram de uma só vez. E lá pelas tantas da vida, o homem caiu. Foi parar direto na UTI.
Na colônia onde residia, não houve reza, nem tão pouco missa. O que houve na verdade foi à concretização máxima de que quando o homem morre, realmente...? Uma vez na UTI, fez-se o preparo para o enterro, pois se imaginou a morte. Assim a cova foi aberta. Esperava-se o cadáver, porém chegou o homem vivinho da silva. Agora posso responder: o homem quando morre, ainda vive alguns dias. Já o pobre, antes mesmo de morrer, morto já está.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

VOCAÇÃO


Não importa o que você venha a ser
Se ouviu a voz de Deus e colocou-a em ação,
Eis o sentido da vocação.

Defini - lá não posso,
Sei que mistério ela é.
Vê-la já posso, quando num gesto tão nobre,
O amor vindo a acontecer.

Amor! Amor de Deus se fazendo.
Haveria vocação mais sublime do que está:
Dar a vida por quem está morrendo??

Me desculpem, por favor,
Se de vocação, tão pouco falei.
Pois como Samuel ainda estou,
A ouvir a voz do meu senhor:
...? ...?
_ Aqui estou senhor.

Poesia vencedora da Segunda Gincana Vocacional promovida pela Paróquia Nossa Senhora do Rosário

QUEIXAS DE UM DEFUNTO



Antes que caia o leitor no abismo dos pré-julgamentos, da certeza tida pela leitura do titulo do texto, advirto você leitor amigo: se a expressão última lhe lembra um velho amigo, peço que fique só para você a lembrança, até porque, não tratarei aqui de memórias, mas sim de uma única queixa sobre um único pedido, aquele que não atendido jamais se saberá qual homem o foi...
Confesso! Fiquei profundamente decepcionado com o meu velório. Sim! Depois de morto fui mais um que se enchia do cafezinho de graça, dos biscoitos comidos sem permissão do dono, ou melhor, do defunto; das fofocas colocadas em dias, e daquelas conversas que pela ocasião do momento são sempre lembradas:
_Lembra do João?
_ O da Maria?
_Esse mesmo. E não é que ele morreu do mesmo jeito...
Ainda vivo ficava imaginando como seria o meu velório, o meu enterro e para tanto, previne-me com tempo. Não, não... Eu não providenciei plano de saúde desses que quando se morre, a empresa envia de maneira rápida, veloz o caixão e todas aquelas coisas que dão um ar de harmonia perfeita entre o corpo ali exposto e as pessoas chorando copiosamente. O que fiz? Um ensaio prévio; ensaio fúnebre. Mas na hora H... Ou melhor, depois de morto... Decepção!!!
A celebração de exéquias atrasou. Isso porque aquele vigário... Meus notáveis amigos em vida não foram: era final de campeonato. Ah! Dia ruim para morrer. Meus livros e CDs do Raul Seixas foram todos levados por pessoas que nunca vi em vida. E ainda diziam: uma pequena lembrança do amigo finado. Mas em meio a tudo isso a confirmação de que no fim do túnel a esperança existe. E Logo da pessoa menos improvável de conversão: dona verinha. Esta permaneceu fiel ao seu caráter. Em nenhum momento fingiu lágrimas. Dizia todas as ofensas que sempre me dirigia em vida, tudo isso com uma voz firme e uma postura ereta ao pé do caixão. No entanto, coube já no cemitério o ato de tão nobre conversão de dona verinha. Esta após uma ação de graças em favor de minha morte, fez o que ninguém foi capaz. Foi autora de meu último desejo.
Sobre a minha lápide assim a desgraçada inimiga escreveu:
“Aqui jaz um poeta masculino
Nasceu homem e morreu menino”.