quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O Olhar do Fotógrafo


                                                                                                         

O fotógrafo passou... voltou... parou... e olhou...
Viu o que muitos enxergaram. Mas que poucos viram.
Então Ele, o fotógrafo, se posicionou.
Da bolsa a câmera retirou e nas mãos empunhou.
Mas Ele apreensivo também ficou: ansioso pela apreensão do instante.
E respirou... respirou... E o obturador disparou: e eis a verossimilhança do real capturada.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Contos Amazônicos: No rastro da Cobra Grande.

Um último capítulo e a dissertação estaria pronta. Mas este lhe travou a mente e logo a escrita estagnou. Também pudera: o tema era sobre os encantos míticos das lendas amazônicas. Para ser mais preciso O Mito (lenda) da Cobra Grande.  Assim, angustiado pela inspiração do tema que não vinha, o nosso quase doutor lembrou-se de buscar novas orientações com um grande mestre na cultura (e vivência) amazônica que lecionava Cultura Amazônica naquela faculdade. A conversa entre os dois se deu ali mesmo na sala de pós-graduação. O nosso personagem amazônico era de uma aparência tipicamente cabocla e trazia amarrado nos punhos um dente de jacaré e um olho de boi (uma espécie de semente da nossa região) que segundo ele era para espantar possíveis “quebrantos”.  A conversa fluiu sem delongas. O novo orientador explicou que a dissertação ficaria bem mais pautada se o pesquisador fosse beber diretamente da fonte do objeto a ser pesquisado. Isso implicaria numa longínqua viagem de São Paulo a Óbidos, onde, segundo os antigos, disse o professor da Amazônia, está adormecida nas profundezas do Grande Rio Amazonas uma monstruosa serpente cuja cabeça esconde-se debaixo do altar na Igreja da Senhora Santana.
O postulante a doutor, a priori, não gostou muito da ideia de dar sangue a mosquitos nas brenhas de cá. Mas fazer o quê... pensou ele. O professor olhando a sua desmotivação primeira deu-lhe um único conselho: “Vá meu caro... mas tome muito cuidado com os encantes do boto e da Maria Caninana...”. Ouviu-se logo em seguida uma risada baixa e debochada...
Dois dias depois e o aeroporto Internacional de Santarém Maestro Wilson Fonseca saudava o doutorando paulistano. Ele foi direto para o trapiche e de barco dirigiu-se até o município de Óbidos. Ao chegar pensou está em Portugal tamanho a semelhança da arquitetura das casas. Percorreu todo o centro obidense até a praça do estreito. Ali mesmo começou a sua pesquisa lendo nas placas de zinco as descrições que os primeiros navegantes portugueses fizeram da antiga região dos Pauxis. Dali foi até a Casa de Cultura (antigo forte) onde em fim encontrou os primeiros relatos da Cobra Grande. Os relatos diziam que a misteriosa serpente se metamorfoseava em uma linda cabocla que seduzia até o mais valente de todos os homens. As descrições o deixaram num misto de curiosidade e novamente de deboche: como alguém poderia acreditar numa história dessas? O pensamento foi tão alto que uma mulher que também ali pesquisava o advertiu: “cuidado moço aqui tem pescador que jura que já sofreu as judiações da cobra”.
De tão compenetrado que estava nem percebeu a boca da noite chegar. De frente da praça do “Ó” fotografou algumas imagens e desceu até a orla. Era uma noite em que a lua se escondia. O banzeiro das águas turvas do amazonas batia o casco das embarcações no cás. Quando caminhava já de fronte da Serra da Escama, de longe avistou uma canoa conduzida por uma linda mulher. Neste momento um desejo inconsciente o dominou e quando retornou a sã consciência estava devidamente acomodado na canoa feita de peça única. A mulher logo perguntou quem ele era e em que ela poderia o ajudar. A resposta veio sem intermédio: “sou de São Paulo. E estou aqui para fazer uma pesquisa sobre um mito da Cobra Grande. Você conhece São Paulo. Não é? Conhece também esse mito”? “Se conheço o mito? O mito conheço muito bem. Muito bem mesmo... Mas São Paulo não. Só conheço lugar de muita água”. Respondeu a linda mulher.
La pelas tantas da conversa o quase doutor pediu para que ela o levasse até certo ponto do rio e que ao mesmo tempo fosse contando sobre a lenda. Ela o atendeu e remou até próximo ao Paturi enquanto narrava à mística aparição da cobra. Não tardou muito e desceram aos pés da Serra da Escama. Numa distração e a linda mulher desceu primeiro e enveredou-se nas brenhas da mata sem mesmo levar a poronga que alumiava a canoa.  O homem citadino desesperou-se naquela escuridão infernal. Ouvia esturros vindos da mata, galhos de árvore se quebrando, uivos desconhecidos... Sentiu até mesmo o forte piché prenúncio de mau presságio que só mesmo os antigos ribeirinhos são capazes de sentir.
Retomando o último estágio de coragem que tinha lembrou-se da minúscula lanterna que levava na bolsa da câmera fotográfica. E com esta pequena luz servindo-lhe de farol tentou remar, sem sucesso, até a orla. O mais que conseguiu foi direcionar a canoa na mesma direção do forte banzeiro. Nesse exato momento sentiu uma forte pancada na canoa. Pressentiu que algo de mistério na água o atocaiava. Logo as descrições do bote da Cobra Grande vieram-lhe a mente. O medo tomou-lhe de conta. A pilha da lanterna pifou. Por desespero ligou a câmera fotográfica e eis que nesse momento uma grande bolha de ar se fez próxima à canoa e dela emergiu uma enorme serpente com aparência de mulher. O homem ofegou a respiração. Estava diante do que tanto negava, porém muito buscava. A última ação que conseguiu fazer foi apertar o obturador da máquina disparando um intenso flash fazendo com que a maldita serpente o engoli-se num só bote e desaparecesse nas profundezas da Garganta do Amazonas.
Dias depois uma enorme anaconda era exibida no antigo mercado de peixes. E quando os pescadores cortavam-lhe para retirar o couro, um assombroso episódio ocorreu: em suas entranhas um cadáver em putrefação. Reconhecido por um dos carregadores que assistia a cena macabra. “Rapaz... esse caboco é um professor lá de São Paulo que veio pra cá estudar a lenda da Cobra Grande. Eu carreguei as malas dele do barco até o táxi. Eu ainda disse pra ele que essas coisas de mexer com essas misuras era perigoso... maldita cobra...

Análise do filme Um Método Perigoso (numa abordagem educacional).

Em Um Método Perigoso, temos representado por meio da sétima arte parte da vida de dois grandes mestres da psicanálise: Carl Jung e Sigmund Freud. Neste filme de David Cronenberg a trama gira em torno do conceito e uso da psicanálise pelos dois grandes psicanalistas. O enredo tem como foco os casos amorosos em que o personagem representando Jung mantém com suas pacientes. Essa relação amorosa leva ao pé da letra o conceito de Transferência. Na Psicanálise, a transferência é um fenômeno que ocorre na relação entre o paciente e o terapeuta, quando o desejo do paciente irá se apresentar atualizado, com uma repetição dos modelos infantis, as figuras parentais e seus substitutos serão transpostos para o analista, e assim sentimentos, desejos, impressões dos primeiros vínculos afetivos serão vivenciados e sentidos na atualidade. Isso se revela nos diálogos entre os personagens Jung (Michael Fassbender) e Sabina Spielrein (Keira Knightley) em que o psicanalista acaba se tornando amante de Sabina.
Se voltarmos a nossa interpretação do filme para uma possível importância desse método de Transferência para educação, nossa análise se baseará no fato de que nesse processo existe uma relação em Freud reconhece a possibilidade de que a transferência acontecia na relação professor-aluno. O professor tem seu sentido esvaziado para receber o sentido que é conveniente para o desejo inconsciente do aluno. Assim o professor se torna importante para o aluno, já que possui algo que pertence a ele. Desta situação o professor Freud adquire poder, que tanto pode ser usado para ensinar e preparar o aluno Jung quanto para influenciá-lo com o objetivo de doutriná-lo segundo suas próprias crenças. A mesma relação de fato acontece no processo ensino-aprendizagem em sala de aula uma vez que, o professor “esvaziando-se” e “preenchendo-se” do conteúdo trazido pelo aluno é capaz de conduzi-lo a um melhor aprendizado ou molda-lo conforme sua ideologia.
Ainda sobre o filme, nele é possível perceber que a psicanálise tem por objetivo “curar os problemas da mente”. Logo no início, isso é colocado em cena quando a personagem Sabina, em sua crise psicótica que se assemelha a uma mulher possuída, começa a discorrer sobre sua infância e as surras que levava de seu pai. A priori tudo nos leva a crer que ela diria ser abusada pelo pai, mas pelo contrário, essas surras são justamente a sua fonte de prazer sexual e toda vez que passava por momento parecido ou igual excitava-se loucamente e o prazer era eminente. A ação da psicanálise nesse caso era curar-lhe dessas lembranças. O que só viria acontecer mais tarde. 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O mistério do Mapinguarí II


Esta é uma continuação do Mistério do Mapinguarí
Naquele ano, a cheia do Tapajós fora uma das maiores que os ribeirinhos já haviam presenciado. As maronbas já estavam bem próximas do telhado. Nem o cemitério São Pedro havia poupado. E o pior disso foi que algumas sepulturas desceram pororoca a baixo. Entre elas a do temido vei Mariano. Para quem muitos virava bicho nas noites em que a lua se escondia. Mas deste velho defunto, além da lembrança de medo restou, no cemitério quase submerso, partes do caixão de madeira roliça que parecia ainda intacta junto com o livro de capa preta. Sim, o mesmo que o acompanhou no caixão. Logo, o mesmo medo de outrora tomou conta dos ribeirinhos. Mas como? Se em todos esses longos anos nem uma aparição de “bicho” se fez naquela localidade. “Ainda não se fez. O mal tem a sua hora certa...” Com voz trêmula disse um dos caboclos mais velhos da comunidade. Esse mesmo homem, ignorando o medo e as maldições que o acompanham, pegou o temido livro e o levou para sua velha tapera. Parece que este fato de interromper o sossego dos defuntos despertou as aparições antes quietas. Já nessa mesma noite a calmaria dormiu bem distante da comunidade: o banzeiro nas águas do Tapajós amedrontou até mesmo o mais experiente canoeiro; os cães latiam sem parar em direção à mata; esturros se ouviam na imensidão da floresta escura...
Pela manhã, os comunitários acreditavam que todas as “misuras” da noite anterior só apareceram porque o livro de São Cipriano fora retirado do caixão do “vei Mariano”. E de forma hostil expulsaram o senhor que havia retirado o livro do caixão. Pois, acreditavam que o livro dava forma a uma antiga lenda mítica da Amazônia, em que, por meio de orações macabras, o homem se transforma num gigantesco macaco devorador de cabeças: o lendário Mapinguarí.
O velho então pegou alguns molambos, um pouco de fumo, a antiga poronga, pôs tudo em uma bajara e foi-se para as bandas de Óbidos. Mais precisamente na Serra da Escama. Alguns dizem, que na verdade ele se transformou em boto para enfrentar as águas barrentas do amazonas.
Tendo chegado, buscou morada no topo da serra onde nenhum vizinho poderia curiar a sua vida.
Os habitantes locais que chegaram a vê-lo amedrontaram-se com sua aparência rústica de caboclo indígena. E ele era. Descendia dos velhos Tapuios acima da Cachoeira do Aruã.
Se todo mal tem seu momento certo para acontecer, como ele mesmo havia dito, a noite de sua chegada pareceu à hora marcada. Nem bem a boca da noite deu as caras e um misto de medo e apreensão tomou conta da comunidade. Ouviu-se um esturro seguido de uma correria mais feia do mundo nas brenhas da mata. Os moradores armados adentraram a floresta na picada de onde vinham os esturros. O desespero foi grande quando se depararam, num pequeno barraco ainda sendo coberto por algumas palhas de açaizeiro, com um homem jogado ao chão numa macabra metamorfose: os ossos todos contorcidos, nas mãos garras maiores que as de um gavião-real, os olhos juntavam-se na fundição de um só bem no meio da testa, a boca havia sumido, mas apenas de lugar, pois apareceu no estômago bem no lugar do umbigo. Os bravos caçadores não tiveram dúvida: era o forasteiro virando bicho. Evocando preces malignas do livro da capa preta em cima de uma boroca. Querendo metamorfosear-se no Mapinguarí. Mas antes mesmo do homem virar bicho por completo, a experiência dos homens daquelas bandas fez com que, como reza a lenda, perfurassem o umbigo da criatura levando-o a morte.
O corpo do velho tapuio, assim como todos os seus pertences foram enterrados num caixão de paxiúba numa velha fossa.
Agora vá lá saber se realmente a morte conduziu a fera para bem distante do mundo dos vivos. Ou se a criatura se fez de morta para amedrontar outras comunidades...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

AGENDA BOM PASTOR: Projeto “Esperança e Vida na Amazônia” encerra suas atividades 2012.

Foto: Rômulo Viana
Com uma linda celebração, o Projeto “Esperança e Vida na Amazônia” encerrou suas atividades 2012 na Comunidade do Bom Pastor.
Após a benção final, os comunitários presentes na Igreja foram brindados com um lindo recital de natal executado pelas crianças e professores do projeto. Foi um momento mágico, digno do período natalino.
Foto: Rômulo Viana
Para quem perdeu curta os melhores momentos nas fotos abaixo.


quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

AGENDA BOM PASTOR: Comunidade Bom Pastor escolhe a nova coordenação.

Ocorreu no último dia 23 de dezembro de 2012 a eleição para escolha da nova coordenação da Comunidade Bom Pastor. Durante toda a manhã 104 comunitários puderam votar em seus representantes para o exercício do biênio 2013 a 2014. Tivemos 12 candidatos concorrendo aos cargos de coordenador, secretário e tesoureiro.
Após a apuração dos votos foram eleitos os seguintes membros:
  • Coordenadora: Vanderléia Elias Mattos
  • Vice: Francisco de Miranda Sousa (Gervásio)
  • Secretária: Rose Mota Teixeira
  • Vice: Cleiciane Melo
  • Tesoureira: Maria da Conceição Miranda Ferreira
  • Vice: Josias da Silva Sampaio

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

UFOPA: Inovação, Multiculturalismo, Greve, Ensino Regular X PARFOR e Obras Inacabadas...

Embora a Ufopa seja uma Universidade recém criada já trás consigo inúmeros problemas que são mais velhos que a sua própria idade. Diga-se de passagem, que a maneira como foi criada como também a sua própria estrutura acadêmica até hoje são pautas de mesas redondas e discursos descontentes de acadêmicos e professores. Não pense o leitor que nós do Poematisando queremos negar a importância desta universidade para nossa região. O que pretendemos é suscitar discussões sobre pontos que atrapalham a caminhada do acadêmico, pois entendemos que o aluno é o maior beneficiário ou prejudicado nisso tudo.
A INOVAÇÃO na estrutura acadêmica da universidade sempre foi motivo de orgulho para nosso Reitor e pró-reitores e alguns acadêmicos visionários. Mas o que chega a ser contraditório e em alguns casos paradoxal é que a grande maioria dos professores, responsáveis em por em prática essa inovação, negam essa estrutura e chegam a se espantar com tal “inovação”.
Outro orgulho, sempre foi fazer uma universidade na Amazônia para amazônidas com pensamento amazônico. Porém, o que vemos é um multiculturalismo pensante por parte de nossos professores. Alguns com gírias, expressões chulas... Talvez pensando que esse falar nos conquiste. Outros ainda são vazios em contextualizar teorias com a nossa realidade. Pois, a nossa realidade não conhecem. E como poderiam? Conheciam a Amazônia somente por meio de livros e documentários de TV à cabo.
E com relação ao ensino até hoje sofremos com os resultados de uma greve/férias (desculpem! Mas para muitos professores a greve se resumiu a isso): trabalhos passados na espera de serem recebidos no retorno das aulas (pode uma coisa dessa!?); reposição das aulas de maneira duvidosa; leia mais no post Greve na UFOPA
Todavia, disso tudo o que nos deixa mais triste é a concorrência desleal: Ensino Regular X PARFOR.
O que os alunos em final de curso se questionam é se os professores concursados da UFOPA são da Ufopa ou do quadro docente do PARFOR? A responsabilidade primeira desses professores é cumprir com sua carga horária na Ufopa ou no PARFOR? A resposta parece ser no PARFOR. Uma vez que muitos professores simplesmente “abandonam” tudo aquilo que estejam fazendo para abraçar de corpo e alma o PARFOR. Será que do seu salário é descontado esse período de ausência?
E por fim, quando o prédio do ICED será em fim concluído?

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Retrospectiva 2012: entre estudos e pedais...

Apresentando Relato de Experiência na I Jornada Acadêmica da UFOPA
Ao lado de um dos icones da cultura santarena: Laurimar Leal.
O ano de 2012 para o poematisando foi excelente. Tivemos o maior número de postagens desde sua criação. A cada mês superamos o número de visitas chegando a quase duas mil visitas por mês. Todo esse sucesso só foi possível graças ao crescimento profissional de nosso editor. Que além de crescer profissionalmente, cresceu também como pessoa humana. O ano para este, foi marcado por muitas realizações entre paixões amadoras e amores profissionais. Veja nas fotos os principais momentos do poematisando no ano de 2012.
Executando minhas atividades de Bolsista do Programa Institucional de bolsa de Iniciação à Docência - PIBID


Jurado no Concurso de Literatura de Cordel realizado pela Prefeitura de Santarém.
Chegada depois de uma longa trilha solitária
Palestrante no V Salão do Livro 



quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Fotografia: Natureza Amazônica



Que outro lugar no Brasil (e talvez no mundo) podemos ter a natureza como extensão do quintal de nossa casa? Creio que só mesmo aqui na Amazônia.

Aqui, homem (sim, aqui tem gente vivendo) e natureza compartilham, por vezes, o mesmo espaço.

Diariamente sou acordado por uma ópera de passarinhos que se apresentam pontualmente, aos primeiros raios solares, nas árvores do meu quintal. Uma sensação única de se sentir parte desta natureza. Além disso, vejo-os, ainda, alimentarem-se durante todo o dia.

Além de pássaros, jabutis caminham livremente pelo quintal demonstrando que esta natureza é amazônica. Única!