Machado de Assis é considerado um grande criador de
personagens femininas. Suas mulheres são frequentemente misteriosas,
enigmáticas, dotadas de grande sendo de percepção, capazes de manipular
psicologicamente o mais astuto dos homens. (BAGNO, 2004). Esta citação nos dá a
dimensão da importância de Machado de Assis para a literatura brasileira e
mundial.
Situado na escola literária a que se chamou de
Realismo, Machado soube como ninguém, não só no romance como no conto, inserir
em sua obra os costumes contemporâneos de sua época.
Machado também é conhecido por trabalhar com o
íntimo das personagens, o que segundo o professor Massaud Moisés classificou de
Realismo Interior. Uma prova disso é o enredo que encontramos no conto O Caso
da Vara.
No conto é possível identificar diversas
características machadianas, principalmente em relação à personagem feminina.
Obedecendo a constituição do conto (MOISÉS, 2004) Machado apresenta-nos uma
única célula dramática ao narrar à história de um seminarista, que sem a vocação
ao sacerdócio, vê em Sinhá Rita a única chance de poder convencer o pai da
ideia de não torná-lo padre.
A ambiguidade também é uma das características de
Machado de Assis. E ela pode ser encontrada desde o título. Pois, espera-se que
o leitor queira saber do enredo a partir do título. Mas “o caso da vara” fica
em segundo plano até o desfecho da história.
Ambiguidade está que vamos encontrar em Sinhá Rita.
Sinhá Rita apesar de seus quarenta anos parecia ter
vinte e sete. Parecia bondosa; amiga de rir. Mas ao mesmo tempo, brava como o
diabo. Em si a autoridade, o comando. Tudo isso representado em sua fala de
ação: “Pode... há de ser possível, afianço eu”. Essa ação de está acima da voz
do homem é explorada em sua certeza de conseguir que o jovem Damião não mais
retorne ao seminário. Pois, era ela quem estava dizendo.
Sinhá Rita não age assim por acaso. Machado deixa a
entender que ela mantinha relações “íntimas” com o padrinho de Damião, o senhor
João carneiro. Apresentando-nos assim uma mulher calculista.
Se um bom conto é aquele que em seu desfecho deixa
uma dúvida no ar, em O Caso da Vara Machado de Assis conduz o leitor a pensar
que agora sim, o título fará sentido. Pois, é justamente esse caso que decidirá
o futuro do jovem seminarista. Perceba que nessa cena temos ressaltado o poder
de decisão que Sinhá Rita adquire: uma autêntica mulher de comando.